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sábado, 21 de fevereiro de 2015

Aprendendo a criar mangás - Capítulo 9: Criando o seu universo

Estou voltando com as séries de postagens clássicas aqui do blog, então resolvi continuar essa aqui, que vem fazendo muito sucesso. Um dos motivos para eu ter parado com ela é que ultimamente eu não estava tão bom com desenhos.
Visto que minha habilidade não melhorou, resolvi continuar mesmo assim, mas ensinando a minha especialidade, roteiros.
Costumo escrever a quase todo momento, principalmente contos, até alguns poemas. Gosto muito de criar histórias e acho minha imaginação bem fértil. 

Eu iria renomear os posts anteriores e colocar esse como parte 1, mas resolvi deixar como está pra não bagunçar tudo. Tudo isso porque eu vou realmente começar do zero, ensinando desde que você começa a escrever a história. Então vamos imaginar que recomeçamos aqui, ok?
Hora de aprender como montar um roteiro básico, aquele que vamos precisar nos primeiros capítulos e que vai servir de base para toda a história

O tamanho do roteiro vai depender muito do tamanho que você quer para o seu mangá. Existem aqueles quase infinitos (como One Piece e Hajime no Ippo), tem os grandes (Naruto, por exemplo), os médios (como Gantz) e os pequenos (como Fullmetal Alchemist).
Obviamente em um mangá pequeno as coisas acontecem rapidamente e a ação não para por um segundo (se o seu mangá for de ação, né), enquanto em um grande as coisas se desenrolam aos poucos e dá temos várias tramas diferentes. Para um primeiro mangá eu recomendo um pequeno. Pense bem, você está querendo criar sua fama, então não é uma boa ideia jogar sua melhor ideia logo de início. Faça um com conteúdo intermediário, mas impactante e que chame a atenção (veremos como fazer isso) e quando já tiver um público montado, lance sua obra-prima.

Tudo começa com a ideia. Isso provavelmente você já teve, mas se ainda não é o caso, recomendo ler alguns livros, artigos na internet, ver uns filmes, isso ajuda bastante. Então vem o primeiro passo: escolher o estilo.

O estilo do mangá pode ser:
  • Shounen: voltado para meninos, cheio de ação, lutas, sangue...
  • Shoujo: voltado para meninas, fala mais sobre romance, coisas da vida...
  • Kodomo: estilo de mangá infantil, para ambos os sexos, geralmente educativo e com bichinhos fofos...
  • Gekigas: voltado para homens adultos, geralmente com linguagem mais desenvolvida, mais sangue, um pouco de nudez, quase sem piadas...
  • Josei: voltado para mulheres adultas, fala das tarefas do lar, relação com a família, aventuras das mulheres...
  • Hentai: o foco desse estilo de mangá é pornográfico, explícito ou não, e mostra relações sexuais ou histórias eróticas...

O estilo josei busca mostrar o que mulheres adultas gostam de ler

Você pode implementar os estilo colocando ecchi, que é um pouco de sensualidade na história. É uma calcinha aparecendo aqui, uns peitos sacudindo ali... Mas eu não recomendo, isso restringe o público alvo de sua história e não é bem visto por muita gente aqui no Ocidente. Japoneses costumam exaltar os seios de suas personagens, nisso eu não vejo muito problema, se não for exagerado, é claro.

Com a ideia e o estilo em mente, vamos colocar a mão na massa:
Vou ensinar agora o meu método para criar a base de uma boa história, mas vamos começar pelo início! Vamos criar o universo da sua história primeiro, em cinco simples passos.

Primeiro, pense em um mundo. Real ou imaginário são as duas opções. Ambas com vantagens e desvantagens.
Em um mundo real você fica limitado a aceitar o mundo como ele é, pode até introduzir elementos de fantasia ou lugares misteriosos, mas ainda assim fica limitado. Você não pode dizer que há um continente entre a África e a América, porque não há. Em contrapartida você já tem quase tudo pronto: a história da humanidade é incrível, você pode inserir sua história no meio da Segunda Guerra Mundial, da Guerra Fria, da Era das Navegações, tem infinitas possibilidades. Como eu disse, você pode modificar essa realidade e inserir algumas coisas que quiser, mas a própria realidade o limita. Se sua história não é fantasiosa, esse é o mundo perfeito.
Em um mundo imaginário você vai ter a liberdade, você será um deus que pode fazer o que quiser. Crie planetas redondos, quadrados, reinvente as leis da física, coloque dragões lutando contra naves espaciais, terras em chamas, enormes montanhas geladas,  faça o que quiser! Mas tem desvantagens também. Criar um mundo do zero é muito complicado (acredite, eu já tentei). Você precisa tapar cada buraco minuciosamente, não pode deixar nada passar. Vai ter que criar mapas para não se perder, recontar histórias para inventar a origem de objetos, por exemplo. Talvez tenha até que inventar novas línguas. Se você deixar algo passar os fãs vão ficar se perguntando. Até hoje vemos nos SBS de mangás os autores tendo que explicar algo que ficou incoerente ou confuso. Dá muito trabalho, mas a sensação de liberdade é imensa!

Death Note é um exemplo de mangá que ocorre no mundo real com pequenos traços de fantasia. Lá você não vê nenhuma anormalidade (tirando os shinigamis), há até os mesmos países que existem de verdade, meios de comunicação, tecnologia. Ou seja, Death Note se passa no mundo real com pequenos toques de ficção, e isso é possível também!
O universo de Dragon Ball, por exemplo, tem muitos planetas diferentes e isso contribui para aumentar a gama de personagens. Já Fullmetal Alchemist acontece em algumas cidades, todas imaginárias, mas é um mundo bem limitado.


O planeta Vegeta é um dos muitos criados por Akira Toriyama para abrigar suas histórias de Dragon Ball

Mundo escolhido, o próximo passo é o tema. Eu já falei sobre isso uma vez aqui, até dei alguns exemplos de temas, então não vou bater na mesma tecla. Existem diversos temas: ninjas, alquimistas, policiais, caçadores de almas, piratas, lutadores... Sem falar que isso já é quase a ideia, não é?
Gostaria de lembrar que o tema não precisa ser único. One Piece é sobre piratas, mas tem samurais também. O que eu quis dizer é que há um tema principal. Procure inovar. O tema de Toriko é gastronomia! É tão único que chega a ser genial, quem iria pensar nisso?



Essas duas etapas podem demorar um tempo. Mas não se preocupe, isso é bom. Pense e repense o seu mundo e o tema, isso ajuda a aperfeiçoar a história.

O terceiro passo é entrelaçar o mundo e o tema. Em uma história de piratas o planeta deve ter mais oceanos e mares do que terra, senão sua história não vai ter mais que um punhado de capítulos. Em uma história de alienígenas você não vai poder se conter no seu planeta, vai ter que criar todo um sistema solar e galáxias, e, a menos que queira um fã chato reclamando na sua orelha, vai ter que estudar um pouco de astronomia para ser coerente e não cometer gafes. Ah, o estudo vale para todos. Estudar história é muito importante para a maioria desses temas, ciências também. Isso tudo te dá mais ideias.
Quando eu precisava criar algo e tinha minhas ideias, eu sentava na frente do computador e lia tudo que podia sobre o tema, assistia vídeos e via filmes. Acabava tendo mais ideias, criava mais personagens e ainda ficava sabendo o que não usar na minha obra porque alguém já tinha usado, evitando acusações de plágio no futuro.

Esse passo foi simples, às vezes nem é necessário. Mas o próximo é essencial. O quarto passo é o tempo. Existem histórias que sequer se referem ao tempo, não dizem datas nem nada. Geralmente são histórias que se passam em outros universos diferentes da realidade. Isso está valendo, mas não é esse tempo que quero lidar. A menos que esteja escrevendo em um mundo imaginário (onde você pode libertar sua imaginação) entender a linha do tempo é importante. Lidando com a história real vai ficar difícil dizer que os espartanos lutavam com sabres de luz, a menos que você dê uma boa explicação para isso. Foi um exemplo exagerado, eu sei. Mas deslizes podem acontecer e nós nem percebemos, mas parece que tem gente especialista em achar erros e depois detonar o autor.
Cuidados com o tempo envolvem que você evite criar anacronismos, que é exatamente inserir coisas fora do seu tempo, como colocar helicópteros na Primeira Guerra Mundial.  Tem mais chance de acontecer em mangás com mundo real, porque a história de verdade já está pronta.
Outro ponto que você deve ficar atento é com a linha do tempo de sua história. Quando você tem, por exemplo, pais e filhos, vai precisar anotar e calcular bem a idade deles, para não cometer erros terríveis. Veja, em uma descrição de idade eu digo que o pai tem 39 anos e seu filho 25. Você vai notar a incoerência (a menos que no seu mundo as crianças sejam sexualmente desenvolvidas precocemente). Isso também vale para quando citar eventos do passado. Por exemplo, um sujeito de 42 anos conta que participou de uma guerra há 20 anos, até aí tudo bem. Só que mais pra frente na história você esquece esse dado e diz que aquele sujeito tinha um parceiro e ele tem agora 31 anos. Entendeu o que eu quis dizer? Lidar com datas em uma história inventada é complicado, por isso mantenha a mão um caderno de anotações para marcar toda e cada data, evento, fato, que ocorreu. Eu já tive que reler 200 páginas do meu próprio texto caçando uma data que deixei perdida, para saber quantos dias meus personagens viajaram. Cuidado com datas!
O melhor é pegar o dia em que sua história começa e classificá-lo como dia 1 de janeiro do ano 2000. Assim você vai ter um controle melhor sobre dias, meses e anos que já passaram ou que vão passar. Se quiser mostrar a data no mangá você pode mudá-la, mas sempre anotando em que dia, mês e ano sua história parou da última vez que você a escreveu.

Agora que você tem um mundo, um tema e um tempo chegou a hora de aprofundar as coisas. O quinto passo é delimitar espaços.
Sua história pode girar o mundo todo, mas vai precisar delimitar espaços ou sua sanidade desaparece em algumas horas de trabalho. Imagine descrever todo um mundo, de esquina a esquina das ruas, cada construção... É impossível, a menos que você seja imortal para ter todo o tempo necessário.
Crie um espaço específico para o seu personagem, mesmo que ele ainda não tenha sido criado. Esse espaço específico pode ser sua cidade de origem, até sua casa, ou o mais usual, sua escola. Como estamos falando de lugares é bom escrever uma descrição deles no roteiro para que na hora de desenhar você saiba onde a história está se passando.
É nesse lugar que teremos o primeiro contato com os personagens, onde conheceremos seus costumes e sua personalidade. Pode ser o lugar onde ele fará seus melhores amigos, onde vai descobrir que tem que fazer algo importante (que será o desenrolar de sua história).
Preocupe-se, por enquanto, apenas com o lugar de origem. Depois você pode introduzir novas cidades, aldeias, lojas...


A Aldeia da Folha é onde temos a introdução de Naruto. Aos poucos o autor vai nos mostrando o mundo, mas tudo gira em torno dessa vila.

Com isso pronto podemos ir para a próxima parte, montar um roteiro simples, criar a base dos personagens e preparar a escrita. Mas isso fica pro próximo capítulo!

Não se esqueça de divulgar, tudo bem? Preciso saber se meu esforço está tendo resultado!

Até a próxima postagem!

4 comentários:

  1. Phos, faz uma postagem sobre o Esquadrão Gourmet de Toriko porque é um ótimo assunto na minha opinião, se você quiser.

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  2. Eu tava com problemas para criar um mundo e a linha do tempo maiis vc ajudou valeu e continue com as postagem ok

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  3. Véi ta demais. Ja li tofos os capitulos e ja to no capitulo 29 do meu mangá... Continua com as postagens ;)

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  4. Continue postando mais sobre como criar mangas phos

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